Ary Farias
Psicanalista

Ary Farias é psicanalista em Campo Grande – MS. Teve sua prática clínica iniciada em 1993. Fez (e ainda faz) todo o seu percurso de formação analitica, teórica, e de supervisão referenciado no ensino de Jacques Lacan, psicanalista francês, que, a partir de seu retorno a Freud, reafirma o inconsciente e sua estrutura de linguagem como pontos cardeais da experiência analítica. Tornou-se Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise em 2015.

Jacques Lacan

Na esteira do contemporâneo, o sujeito acossado pelos ditames das redes sociais e sua usina de imagens, também se encontra sitiado entre os discursos da Religião, da Ciência e do Capitalismo. Nesse ambiente o sujeito erige então seu sintoma. A pressão, própria dessa condição fomenta o remédio e, não raro, o próprio remédio funda a doença.

Esse é o contexto onde se forja a subjetividade do sujeito contemporâneo. Jacques Lacan, já em 1953, no texto Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise, alertava sobre a importância de que o analista estivesse plenamente informado sobre os determinantes simbólicos e imaginários de sua época, ao recomendar “que antes renuncie a isso, portanto, quem não conseguir alcançar a subjetividade de sua época. Pois, como poderia fazer de seu ser o eixo de tantas vidas quem nada soubesse da dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico. Que ele conheça bem a espiral a que arrasta sua época na obra contínua de Babel, e que conheça sua função de intérprete na discórdia das línguas.”

Serviços

Psicanálise para adultos

Psicanálise

A formação de um analista na perspectiva da Escola de Lacan, tem por fundamento a experiência do divã.

Desse modo, um analista lacaniano é, eminentemente, alguém que se autorizou a partir dos efeitos dessa prática, ou seja, a partir da sua análise pessoal, associada a uma constante formação teórica e também a submissão de sua escuta analítica aos dispositivos de controle e supervisão.

O analista é produto do que oferece. Essa é a baliza da ética psicanalítica.

Isso posto, esclarece o fato de Lacan ter optado por construir uma Escola e não uma Associação. 

Uma Escola para sustentar a psicanálise e não os analistas.

A psicanálise não é uma terapêutica e sim uma ética. Sustentá-la no vórtice do contemporâneo, sem os abrigos da nostalgia ou da tradição deve ser, portanto, a lâmina que sustenta a intervenção do analista.

Desse modo, nunca declinar dos impasses que porejam no momento, na síntese dos nossos dias, onde for!

Por isso escrevemos

Literatura

Ganhou estatuto de axioma a premissa segundo a qual a Psicanálise nada ou pouco tem a contribuir com a Literatura. É fato que, sobretudo o poeta, no seu labor de prestidigitação com a palavra, sempre palmilha antes veredas por onde o psicanalista só chegará bem depois. Freud, já em 1907, na leitura do romance Gradiva de Jensen já forjara essa construção. Mais tarde, Lacan também teve uma célebre confirmação dessa verdade ao julgar encontrar na literatura de Marguerite Duras aquilo que ele ensinava e, no entanto, ela sabia sem ele. 

Nessa aba você encontrará textos que aludem, de algum modo, aspectos do fazer literário explorados pelo viés da psicanálise. Esses textos foram produzidos ao longo dos anos, portanto, trazem a marca das minhas leituras naquele momento, visto que “o escritor é uma derivação do leitor. Leitores que escrevem.” São, portanto, textos vincados por seus dias e traduzem as ingenuidades e aspirações de então. Textos que evidentemente pedem leitura, não sem alguma indulgência ou delicadeza do caro leitor. 

Aqui alguns desses pequenos ensaios.

Poesia

A percepção estética é uma forma de investigação e conhecimento e, como tal, sustenta os polos sujeito e objeto. 

Na percepção estética o que se descortina e produz efeito no corpo é a beleza.

A beleza e o sublime são os insumos da poesia. O poeta é o operário da palavra, o artesão da sintaxe. 

A poesia quase sempre é filha do desamparo. Nunca da inspiração. 

Mallarmé já apontava que a poesia tinha algo de precisão estética, visando eliminar o acaso na conjunção das palavras. Isso, de algum modo, corrobora a visada de Décio Pignatari , quando afirma que o poeta é um designer da linguagem. 

Há porém quem diga que a poesia é uma religião sem esperança. 

Essa é uma perspectiva que me interessa bastante, pois foi a partir de pequenos desassossegos que risquei algumas linhas, tidas por mim como “Escritos de Subsistência”, ou seja, pequenos ensaios poéticos sem intenção editorial. Linhas líricas cometidas por puro diletantismo…

Caos

Uma experiência analítica é a oferta de dispositivos onde a palavra pode se tornar, pela forma como é escutada, um instrumento de criação de respostas e de abertura de caminhos inéditos – ou ainda, como indicou Judith Miller, o inconsciente pudesse no mundo contemporâneo, tornar-se audível, isto é, pudesse ter um lugar no discurso. A questão gira em torno de retornar ao lugar a palavra e sua função.

De algum modo, restituir sua potência de associação simbólica, sob a luz da nominação e do conceito. No sintoma, aquilo que se repete, é justamente aquilo que não conseguiu ser nomeado.  Nessa perspectiva, “uma análise só progride pelo veio da lógica, da extração das articulações daquilo que é dito.”

Analisar-se, de algum modo, é alcançar/inventar novos ângulos de elaboração da memória, novas sintaxes para crônicas antigas. Também, a experiência analítica, deve ter como um de seus efeitos (retificação subjetiva) livrar o sujeito da sensação de eternidade, provocar, segundo Lacan, a angústia que convém. 

Outrossim, a psicanálise “é uma prática que opera sem a ficção da verdade, ou seja, sem a ficção dos universais.” Logo, aceitar uma pessoa em análise é deparar-se com modos imprevistos de existir. 

Em suma, “se a psicanálise não muda o mundo, não obstante ela muda tudo.”