Democracia

Ary Farias
  EBP/AMP

O Brasil nasceu da invasão de Pindorama, a terra das palmeiras.

Um lugar mítico na interpretação dos povos tupis-guaranis, uma ‘terra livre dos males’. 

Depois de quinhentos anos do crime luso-cabralino, esta terra, já sem suas palmeiras e não mais protegida dos males, vive dias de assombro e despudor. 

Em Pindorama, aquele regime político-social civilizado que temos por nome democracia, não existia como conceito, pauta ou preocupação. Seus habitantes nus conheciam bem o sol da coletividade. 

Eram regidos pelo inalienável elo do parentesco humano, não pelos muros da divisão social ou os arames, sempre farpados, da religião. Deus ainda era tranquilamente plural!

No Brasil de hoje a democracia é pauta de urgência e insônia social. 

Quase sempre a urgência é um preâmbulo, um rumor do caos. 

No caso, a ruína do que se trata, perfaz o fascismo. 

Um regime de violência atroz, cuja pedagogia reza o desprezo à diferença, o horror a todas as artes e o apego fundamentalista ao gozo obscuro da colonização e/ou silenciamento do outro.

Sabemos, enquanto analistas, que o sem nome do horror encontra sua fronteira de expressão no significante inominável. Lá, justamente, no inalcançável da palavra reside o horror. 

Sem a palavra, o fascismo é um engenho do absurdo, uma tanatografia…

Quando a liberdade não amanhece, nos resta a adaga poética no enfrentamento da barbárie. 

“Os canalhas não suportam poesia.”

                                                                     Setembro/2022