Janeiro 9, 2025
Sigmund Freud, ao que parece, nunca se alinhou voluntariamente a qualquer movimento iconoclasta. Ao contrário, uma vez que a psicanálise se ocupou do inconsciente, seria inevitável que seu método de investigação também se ocupasse das imagens e símbolos tônicos engendrados pela sociedade e sua cultura.
A psicanálise, como se sabe, erigiu-se enquanto prática de leitura e interpretação do inconsciente num momento ainda muito marcado pelo discurso religioso, ainda que já decorridos dois séculos do movimento iluminista.
Naquele momento, o vigor dos dogmas religiosos era facilmente constatável nos credos morais e comportamentos sociais vigentes, com forte repercussão no uso dos corpos, na tradição heteronormativa e, por efeito, na estruturação dos laços afetivos, referenciados na moral cristã, cuja primazia apontava para o amor e senso do próximo. Nesse contexto, a própria psicanálise não poderia se imiscuir no mundo como proposição ética sem o enfrentamento desses conceitos e doutrinas. A proposição do inconsciente em sua primeira tópica e no paradigma inicial do recalque buscava, então, sustentação paralela nesse ambiente já tradicionalmente forjado pela noção de Deus e toda a sua gramática de ascese veiculada pelas práticas religiosas.
Freud, em vários momentos de sua extensa obra, se debruçou sobre a leitura do fato religioso. Partiu, inicialmente, da premissa de que a necessidade religiosa respondia, de algum modo, ao sentimento de orfandade transcendental do homem e a consequente angústia do desamparo. Uma existência macerada pela latência da morte, por um lado, e a insonora indiferença divina, por outro. É nesse descampado existencial que o discurso religioso encontra seu valor ao propor filiação divina ao homem e amainar sua angústia existencial. Desse modo, preenche as lacunas do conhecimento humano e costura com as linhas da fé os furos causados pelo real no tecido simbólico.
Tomando como referência dois textos polares de Freud, O futuro de uma ilusão¹ e Moisés e o monoteísmo², é possível observar uma transição na sua perspectiva sobre o papel e o efeito do discurso religioso na estruturação psíquica do homem. Num primeiro momento, em 1927, Freud, decididamente materialista, preconizava que a ideia religiosa estaria fadada ao enfraquecimento, tendo em vista que a ciência, com suas descobertas, operava importantes desvelamentos da realidade. Naquele momento, a ciência inundava os olhos do mundo com novas imagens, principalmente recortes e fragmentos do corpo, trazidas pelo microscópio, ao mesmo tempo em que inseria cada vez mais o homem na deriva do infinito, uma vez que os telescópios desfaziam as fronteiras do universo sem, no entanto, apontar novos limites. Ainda otimista com a ciência, Freud previa que a repercussão dessas imagens e intervenções cada vez mais fascinantes logo teriam por efeito a demoção da necessidade religiosa. Os dogmas logo perderiam valência frente aos argumentos e pressupostos lógicos gerados abundantemente pelo discurso científico. Era questão de tempo e a religião estaria relegada a uma ciência de indícios, uma impostura lógica.
Isso, como se viu, não se estabeleceu.
De outro modo, Deus seguia a verter ausência, afirmando-se no paradoxo da imagem jamais acessada e na algaravia dos cultos. Por efeito, a prática religiosa, portanto, se afirmava na ascese da fé e na admissão inconfessável da ideia delirante. Ainda assim, apesar das recomendações da lógica racional, o que justificaria a resistência do homem em abandonar a ideia de Deus e abraçar definitivamente a ciência?
Doze anos depois, em 1939, no texto Moisés e o monoteísmo, Freud se viu no dever de revisar sua projeção sobre a presença e a inserção do discurso religioso na estrutura social, na cultura e no estabelecimento dos valores e costumes morais que regiam o homem. O avanço dos conceitos e práticas científicas não seriam suficientes para a dissuasão dos dogmas religiosos. Logo, os motivos da eficácia da religião não deveriam mais ser atribuídos a um simples delírio individual. Ao contrário, as práticas religiosas e a ideia de um ente transcendental respondiam, portanto, a questões bem mais amplas, arraigadas e coletivas. No cerne da necessidade religiosa havia o desamparo infantil, sentimento jamais superado totalmente pelo sujeito, mesmo que alcançasse a maturidade etária. Nessa perspectiva, a prática religiosa erigiu-se enquanto anteparo frente ao sentimento de abandono e desproteção experimentado pelo sujeito. Repercute, portanto, inconscientemente, cenas primitivas da primeira infância. Desde então, Freud estabelecerá o elo funcional indissociável entre o infantil, a não dissolução do sentimento de desamparo e a ideia de um Deus Pai que legislaria o mundo. Diante do estupor da existência sem garantias, o artefato religioso, na imposição de seus credos e dogmas, se efetiva enquanto tranquilizante civilizacional, não sem ao custo de uma invariável condição subjetiva de regressão mental. Tanto isso é verossímil que, sem as concessões da fé, o argumento religioso logo deixa escapar seu estatuto infantil, ou seja, esperanças e regressões lógicas que lembram a necessidade de “um cobertorzinho de estimação, um dedo para chupar, uma saia para segurar”³. Portanto, a religião se estabelece como ponto de fuga da percepção implacável da transitoriedade, fragilidade e abandono. No movediço da existência, o homem erige a fé como arrimo.
A partir dessa nova perspectiva, o fato religioso alcançará então outro ponto de articulação dentro da teoria psicanalítica. Como efeito desse reposicionamento, Freud alinhará o fenômeno religioso aos paradigmas da lei e do pai enquanto função, os quais, associados aos conceitos de falo e castração, comporão os marcos estruturais que ordenarão os destinos subjetivos do sujeito, repercutindo na insondável decisão na partilha dos sexos, na formação do sintoma e nos seus modos de gozo. Inicialmente abordado enquanto delírio e defesa, agora, nessa disposição mais complexa, o discurso religioso alçará então o prestígio de vetor civilizacional.
Foi nesse ponto deixado por Freud, que Lacan, em 1960, no apogeu do pensamento racional e dos movimentos culturais do século XX, estruturou seu texto presságio — O triunfo da religião⁴. Nesse trabalho, Lacan, de modo categórico, vaticinava não só que ideia e prática religiosas ganhariam proeminência entre as outras disciplinas humanas, bem como também deixava em suspenso a capacidade de sobrevivência do discurso analítico.
Lacan retoma o desenvolvimento de Freud e afirma que o discurso religioso tem por mérito ofertar ao sujeito fatias de delírio que se mostram indispensáveis frente à vastidão do mundo, à solidão do corpo e um inelutável sentimento de desarraigamento elementar.
Ainda que a psicanálise tenha publicado todas as fissuras da ideia religiosa, fazendo aparecer um sujeito que, apesar do juízo divino, ainda permanecia com suas misérias elementares insolúveis, isso não foi heresia suficiente. Ao contrário, a fábula religiosa alcançava domínio de prestidigitação dialética capaz de ofertar sentido a qualquer contingência humana. Alforriado do compromisso racional, o discurso religioso guarda então a proeza de se efetivar justamente na ausência da evidência, o que constitui ao mesmo tempo a virtude nuclear e a pedra fundamental da catedral da fé.
A ciência e a tecnologia como recursos de pesquisa, saber e prática, acumularam, de modo incontestável, uma grande fortuna de conquistas que foram naturalmente absorvidas na rotina e estruturação do estilo de vida atual. Tecnologicamente, o homem contemporâneo experimenta a glória da criação. O engenho humano parece, definitivamente, ter inaugurado a estação do “sem precedentes”, ou seja, nada do que havia antes alcança um nível de comparação razoável. Este fato se corrobora na verificação de que, no último século, o mundo experimentou um avanço tecnológico maior do que o acumulado, até então, em toda a história da humanidade.
Lacan apontará em O triunfo da religião que o discurso religioso encontrará sua função essencial, justamente nesse discreto espaço que reflui como resíduo da investigação e das conquistas da ciência. Dirá que a ciência “perturba” a vida com seus constantes desvelamentos. É justamente nesse desassossego inserido pelo discurso da ciência, e hoje também pela tecnologia, que a religião tomou por função “lançar luz”. Tanto avanço e tanta velocidade, não raro, desatinam o falasser. É nesse contrafluxo que o discurso religioso oferta a esse sujeito contemporâneo, atordoado pela insônia do on-line, das notícias ininterruptas e a tormenta de imagens, a possibilidade de se reunir ao seu próprio desejo. Um desejo já dominado pela hiperfagia do consumismo, na idolatria dos gadgets, que se lança o convite ao religare, ou seja, da necessidade de Deus. Deus como um ponto de cadência à voragem do contemporâneo.
Essa realidade de constante desvelamento da prática científica sustenta, então, seu efeito paradoxal, uma vez que, ao gerar novos paradigmas na rede do saber, por efeito, refunda incompreensões e insere novos desarranjos simbólicos e fragmentações imaginárias. Ainda que a ciência se efetive pela criatividade de imaginar novas hipóteses que possam esclarecer e fazer avançar a condição humana — perspectiva defendida pelo físico e filósofo Karl Popper (1902-1994) —, de fato, o que subsiste é sempre algo do desamparo. Ainda que o sujeito possa, eventualmente, experimentar um sentimento oceânico, resta inabsorvido um tênue e constante mal-estar. No horizonte, no epicentro do absurdo e fora de qualquer acesso, permanece o real sem lei, a verter sem intenção nem a ninguém, o descalabro. Insubmisso a qualquer previsão ou cálculo, seu tempo invariável é o da surpresa, da pura irrupção. O real é o que desarranja.
É justamente aqui, sempre na última fronteira da ciência, que o discurso religioso virá oferecer seus favores. Atropelado em suas cadências, o sujeito contemporâneo experimenta uma profunda mutação na sua relação com o tempo, que perde seu caráter de fruição para se estabelecer, tão meramente, entre os consumos. Nesse contexto, de imediatismo imagético sustentado pela experiência on-line, tudo aquilo que não seja imediato é demorado. Assim, qualquer espera, qualquer não-imagem, é interpretado como um fracasso que logo empurra o sujeito para a orla do tédio. No êxito da díade ciência-capitalismo, a religião, de bom grado, derrama sentido e amaina o assombro. É na oferta e consumo de uma fé personalizada que o discurso religioso atual escreve sua promessa. Às reviravoltas da ciência, sempre é possível encontrar nas Escrituras um correspondente de valor moral e efeito distensor, geralmente alçado à condição profética. Não raras vezes, sentidos ferozes. Nessa esteira, o vaticínio de Lacan sobre o êxito do discurso religioso encontra toda sua sustentação na medida em que, a todo desvelar angustiante da ciência, encontrar-se-á um paralelo correspondente de predição e/ou encaminhamento divino. Sendo assim, podemos derivar da leitura de Lacan que o mundo segue sem chances de prosseguir sem a ideia de Deus.
O ponto de confluência entre psicanálise e religião acontece no ambiente regido pela palavra, o aspecto material e mensurável da linguagem. De um lado, a palavra Una de Deus e sua vocação para a verdade absoluta. Do outro, o significante da psicanálise, com sua inveterada propensão à plasticidade do sentido, vocacionada ao mal-entendido e ao gozo. Outro aspecto dessa confluência se dá na medida em que a palavra de Deus e o significante da psicanálise se alinham enquanto sinônimos funcionais, uma vez que ambos são fundantes do sujeito, a partir da perspectiva de que “no berço toda palavra se bebe”⁵. A palavra é o artefato simbólico que permite um bordejamento de gozo no corpo e também o que permite ao falasser índices de existência, na medida em que o significante, no encontro com a carne, repercute efeitos vivificantes. Ainda num esforço de aproximação, podemos inferir que tanto a psicanálise quanto a religião se ofertam enquanto modalidades de tratamento do impossível. No entanto, o discurso religioso evita aludir a esse impossível de modo direto. Transfere o não saber do homem como as prerrogativas de onisciência e poder de Deus: reserva e mistério. Ao verter ausência, Deus requer dos seus a materialidade da fé. Materialidade sonora de palavras que efetivamente não são ecoadas pelo universo, ao contrário, ainda vivemos a ressonância da angústia existencial de Pascal, cujo “silêncio dos espaços infinitos” ainda vigora. A religião, seu engenho, é justamente sacralizar o delírio.
Essa dissuasão do racional será justamente o ponto de eficácia do argumento religioso. Lacan dirá, inclusive, que a religião “é feita para curar os homens, isto é, para que não percebam o que não funciona”⁶, e o que não funciona é aquilo que temos por real. Desse modo, o assentimento da fé e da vivência religiosa, inevitavelmente, ocorre às expensas de uma renúncia importante de parcela da autonomia cognitiva do sujeito. Parte da sua fortuna intelectual é cooptada para dar sustentação à novela divina, cujo enredo se apoia num citacionismo atordoante das Escrituras Sagradas e no imaginário criacionista.
Na eternidade do desamparo do homem, pode-se admitir a ideia religiosa, no sentido mais amplo da sua expressão, como um atavismo psicológico.
Acolhido esse pressuposto, nota-se que a necessidade mística e/ou a perspectiva metafísica sempre esteve presente no processo de formação, identificação e coesão sociais. Outrossim, o fato religioso é, antes de tudo, um pacto social, uma referência imprescindível na maioria das organizações sociais. Os valores e a anatomia moral religiosa embasam o juízo das condutas, bem como estabelecem a régua de comportamento e orientação, decorrendo daí também a ideia do pecado. Ao repercutir no coletivo de singularidades, a ideia religiosa reflui, portanto, na própria ordenação da estrutura social. Em muitos casos, os valores religiosos se efetivam em paralelo ao sistema jurídico oficial.
Atualmente, é possível observar um fenômeno de amplitude mundial de reverberação dos discursos religiosos com um marcado viés fundamentalista. Contíguo a esse movimento, o mundo experimenta o retorno de políticas nacionalistas e conservadoras, reativadas em perspectivas diplomáticas xenófobas, excludentes e preconceituosas. Mesmo no caso do Brasil, um país de tradição sincrética, cujo espectro religioso, de crenças, doutrinas e dogmas sempre foi um marco da vivacidade cultural e democrática de seu povo, tem enfrentado retroações sociais e políticas decorrentes diretamente dos efeitos do recrudescimento dessas pautas religiosas e seu marcado acento conservador. A partir dessa realidade, que bem poderíamos denominar ‘infecção psíquica’, o país enfrenta uma onda de evangelização que repercute em todos os extratos sociais, inclusive com efeitos nefastos sobre as instâncias de poder do Estado, que se viram parcialmente referenciadas por ideais e práticas do que se chama Movimento Evangélico. Tanto que recentemente esse fenômeno de perversão da política pelo discurso religioso acabou por refletir diretamente no resultado do pleito eleitoral do país, que viveu o desmonte de importantes políticas públicas em favor de perspectivas que veiculavam a progressiva ruptura do contrato de laicidade do Estado e consequente retrocesso na rotina democrática do país.
Atrelados a essa situação, no reavivamento da estupidez estatal sem os freios da vergonha, experimenta-se, no seio da sociedade, a reordenação de enunciados tirânicos, separatistas e preconceituosos, bem como de todas as mazelas irmanadas a esse flagelo discursivo. Performances de violência, preconceito e exclusão passaram a pulular no cotidiano social brasileiro. Pretos, pobres, populações periféricas e ribeirinhas, população em situação de rua, pessoas com orientação e prática sexuais fora do âmbito heteronormativo e os povos originários são os endereços priorizados desse regime discursivo hediondo. Políticas públicas foram aparelhadas de ideologias e práticas cínicas de higienismo religioso. Essa progressiva “oficialização” dos valores evangélicos utilitaristas nas decisões político, econômica e judiciária do Estado foram determinantes no processo de corrosão social e retrocesso democrático verificados na história recente do Brasil. Em paralelo, avança um processo de populismo bíblico de sanhas autocráticas e hegemônicas. Efeito desse ambiente, observa-se uma progressiva deterioração da cidadania e consequente naturalização das condições inóspitas à liberdade, à diferença e à autonomia das formas de existir.
Há algo de circular ou cíclico na história da humanidade. Já no século XVII, Blaise Pascal interpretava com lucidez o quão insultante pode ser à dignidade humana os efeitos da arrogância religiosa: ”Os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tanto entusiasmo como quando o fazem por convicção religiosa”⁷.
No Brasil, o Movimento Evangélico representa um ambicioso projeto de expansão da fé, cujos métodos de cooptação alcançaram um nível de extrema complexidade e projeção, aparelhando-se de redes de rádio, jornal e televisão. Com isso, estruturaram agressivas campanhas de marketing, seguindo sem pudores os paradigmas da lei de mercado. Um messianismo venal, donde são disparadas verdadeiras operações comerciais de fetichização de Deus e a adoção de um modelo muito peculiar de franquia da fé, cinicamente ancorado em perspectivas e objetivos de consumo e empreendedorismo. A fé cuja virtude é, antes de tudo, a prosperidade.
Como se pode constatar, o triunfo religioso apontado por Lacan está longe de ser um processo de baixa complexidade e repercussões controladas. O apelo religioso, salvo exceções, exorta o infantil e o primitivo, forças que, dissociadas do verniz racional, invariavelmente, escrevem o preâmbulo dos regimes corrosivos à liberdade.
A história registra, de modo incontestável, que o nível de desenvolvimento social e de cidadania de um país está diretamente associado ao lugar ocupado pela ideia religiosa na subjetividade coletiva da população. Não há evidência de que a presença da religião melhore as condições de cidadania de um país. Ao contrário, os menores desempenhos de IDH estão localizados justamente naqueles países onde a presença da religião ocupa grande influência, inclusive estatal. Nessas localidades, o discurso religioso se ocupa de sacralizar e naturalizar a miséria, promovendo a ignorância ali, justamente, “onde o obscurantismo encontra seus valores”⁸. Fábulas de cativeiro que engendram na população as condições indispensáveis de hospedagem de um Deus que procrastina para amanhã, na eternidade invulnerável, a justiça, a não violência e a fraternidade relegadas hoje. Um conto infantil onde “naufrágios e mortes são pretextos de cerimônias adoráveis”⁹. A religião, ao execrar o profano, retira do homem a possibilidade de se experimentar sem o peso da Verdade.
Do outro lado, a psicanálise, cuja verdade responde de outro lugar. Trata-se de uma verdade ancorada ao inconsciente, estruturada enquanto ficção e semblante. Em psicanálise a verdade é uma estrutura volátil, fraturada pelo real. Refere-se antes ao gozo e ao exílio do falasser, portanto, em última instância, não fraterno. É nesse vacilo da tradição fraterna que se funda o laço analítico, na proposição inédita de escrever algo sobre o sintoma, pela via da “palavra que descalça as certezas”¹⁰, pois uma interpretação justa pode reordenar uma gramática de gozo e reorientar uma existência.
Por fim, o triunfo da religião, ao contrário das aparências, é o malogro do amor.
Não há Outro do Outro. Deus, assim como o desejo, é uma “densa ausência”¹¹.
¹FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1980. p. 11-71.
²FREUD, Sigmund. Moisés e o monoteísmo. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1980. p. 11-161.
³DAWKINS, Richard. Deus, um delírio. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 19.
⁴LACAN, Jacques. O triunfo da religião. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
⁵BECKETT, Samuel. Poesia completa. Belo Horizonte: Relicário, 2022. p. 233.
⁶LACAN, 2005, op. cit., p. 72.
⁷IDAWKINS, 2007, op. cit., p. 322.
⁸LACAN, Jacques. Texto da contracapa. In: LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
⁹PIZARNIK, Alejandra. Extração da pedra da loucura. Belo Horizonte: Relicário, 2021. p. 62.
¹⁰RIBEIRO, Dora. O poeta não existe. Lisboa: Edições Cotovia, 2005. p. 50.
¹¹LACAN, 2005, op. cit., p. 49.