Março 14, 2025
No alvorecer do século XX, Freud anunciava a Psicanálise enquanto prática de tratamento paralelo aos modos e preceitos praticados pela medicina da época.
Inaugurada pela mulher, a clínica psicanalítica logo derivou seu leitmotiv à questão da sexualidade.
Partindo de uma noção de sexualidade presente desde sempre, Freud promove a infância ao ponto de partida para a investigação e compreensão da sexualidade humana, bem como, por efeito, escandaliza o senso comum, à época, que preconizava a infância como um estágio ainda livre dos rumores do sexo e do corpo.
Ao romper com a blindagem angelical onde então repousava a infância, Freud não só anuncia a vigência da sexualidade infantil, como também descortina o modo como isso se efetua, ou seja, o corpo infantil como lugar mor de prazeres difusos, de desmesura sexual. É verdade, um gozo sem ainda as marcações efetivas da linguagem e da cultura, o que lhe conferia (a esse gozo) uma expressão desordenada, toda vigente. Isso foi sintetizado na expressão “polimorfia sexual”, quando a pulsão ainda se apresentava deveras desorientada, por isso “perversa”.
Freud acoplou ao seu método de investigação e tratamento, ao seu construto teórico, o conceito de falo — repercussão imaginária da diferença anatômica entre os sexos — e também importando da literatura mítica os personagens da novela Édipo Rei, de Sófocles. Isso demonstra o esforço de artesania e encadeamento conceitual que viriam a se tornar, mais tarde, os eixos da sustentação basal do corpo teórico psicanalítico, juntamente com os conceitos de inconsciente e castração.
Isso posto, podemos pensar que falo, complexo de Édipo, inconsciente e castração foram as roldanas nucleares forjadas por Freud, por onde se movimentam as cordas pulsionais que sustentam esse desequilíbrio estável que temos por tradição nominar sexualidade.