Vexame

A morte é o escárnio da vida

Certeza imprevisível, ela te obriga à ficção para poder suportá-la

Ela chuta as tuas malas e esparrama os seus segredos

Ela risca seus documentos, desfaz sua coleção 

Ela te faz perder a viagem, troça dos seus destinos 

Ela zomba das tuas lembranças, amassa seus retratos

Joga tuas pérolas aos porcos e ri dos seus amores

Ela ignora teus livros, tampouco lê suas anotações 

Despreza seus objetos, deixa seus móveis à poeira…

Desfaz seu guarda-roupas, doa seus sapatos

Ela rasga seus poemas, publica seus delírios

Apaga o seu olhar colorido e acende a escuridão 

A morte viola a sua pele e corrompe o seu cheiro

Porém, não ela não dilui os seus ossos

Que é para te expor na sua ausência

A morte é um vexame!

  

                                                     Dez/2011